domingo, 19 de agosto de 2007

Os 40 botões

Hoje foi dia de feirinha. E como todo bom dia da feira curtibana de domingo, fez sol, Plá, malabares e boas compras no sebo. Deste último bom evento, porém, tiveram algumas modificações formais consideráveis. Comprei R$4,00 em botões. Isso, botões do sebo - R$0,10 cada, independente do tamanho -. Fiquei fascinada com a oferta e tratei de selecionar logo os preferidos antes que a atendente pudesse voltar cortando meu barato - não, na verdade fica por R$1,00 a unidade - ou coisa parecida que fosse. Ela não veio, e meus 40 botões sairam da loja sãos e salvos de qualquer intervenção.
Foi então que eu me dei conta da quantidade de história aconchegada em minha pequena sacola (desculpe, não foi possível recusar a sacolinha dessa vez). Em quantos lugares diferentes já estiveram tais detalhes repassados! Será que algum pertenceu a uma jovem apaixonada por Clarice Lispector? "A hora da estrela", a primeira versão autografada descansa no criado mudo ao lado da antiga boneca, olhos feitos de um delicado botão amarelo claro sustentado por uma última volta de linha. Quando enfim se soltar, o interesse infantil terá se dissipado, e o reparo não se fará necessário.
Aquele quadradinho, de um verde perolado, certamente pertenceu a um homem em torno dos 32 anos, barba feita, cabelo lambido. Quando em passeio ao parque com sua esposa, ergueu-se para pegar uma flor da árvore mais próxima e acabou enroscando seu casaco beje claro, presente de mamãe no último natal, causando a queda do botão. Foi a mulher que o discerniu quando este se misturou ao verde da grama, colocando-o na bolsa com extremo cuidado, um resguardo para a futura arrumação. Ela esqueceu, trocou de bolsa e separou-se do marido.

Fui pensando nisso e cantarolando por debaixo dos escuros óculos que descansavam e também anuviavam a visão. Assim, com o coração cheio de botões, cada um com mil histórias possíveis; canto um tenso mi menor, à espera do próximo dó maior que me trará a respiração tonal, de aconchego, de liberdade, e de até mi menor amar.

6 comentários:

Anônimo disse...

lindooooooooooooooooo
merecia um link só pra este texto!

me apaixonei por tais palavras!

beijokas

Anônimo disse...

Tão envolvente que até eu quero botões! Eu que ia na feirinha só para comprar as meadas de linhas... Botões podem ser uma boa pedida também. Principalmente nessa fase "artesã" na qual estou, hihihi...
Besitos!

Anônimo disse...

posso dar um tipo um tiro?
meu caneco colorido!
eu vou bater com a cabeça na parede!

Anônimo disse...

amora, vou te mandar uma música no gamil, só você vai entender! hahaha!
é muito boa!

eu tô indignada! hahaha!

=*

Luccas disse...

Nossa, que batuta o texto...XD Nunca mais vou ver um botão da mesma forma...XD

Tábata Lima disse...

Hahaha! Amora minha!
Turista da Puc digo realmente é o que me faço por instantes, mas há de passar. Dias melhores estão por vir!

Morretes, morretes... Liguei na Rodo: Classe turística (com lanche e guia) = R$ 50,00. Classe econômica = R$ 26,00!

E aí? Vamos? Daria 50 reais ída e volta! Passar o dia e tirar pictures! E com certeza falar sobre a vida!

Ah, atelier pra ontem. Eis que já tinha te avisado que poderíamos arrumá-lo tranquilamente no primeiro feriado que chegasse, mas se conseguirmos antes, melhor!

Trabalhos mil. Fotografia, ilustração em relevo, xerox da sua apostila e italiano. Ah seus pertences estão comigo, levo hoje sem falta!

Abraço apertado de urso!

Beijokas